Cássio Thyone destaca a sazonalidade do consumo. Para ele, o tráfico se comporta como um mercado típico, com regras de oferta e procura, diferenças regionais, tendências temporais, características particulares e preferências de consumidores.
"Acredito que sejam variações relacionadas à própria dinâmica do mercado de drogas. Lança-perfume é bastante usado em algumas época, especialmente no Carnaval. Durante a pandemia da Covid-19, tivemos queda do número de pessoas que curtiram o Carnaval, porque não houve festas na rua. O LSD também pode ser alguma coisa relacionada à preferência dos consumidores. Não são opiniões conclusivas, apenas hipóteses", afirma.
Para melhorar os números, o especialista sugere investimentos no trabalho de inteligência policial. "Para usar mais efetivo e equipamentos, não ficar apenas na distribuição de 'formiguinhas', mas fazer grandes apreensões, que vão gerar mais prejuízo para o mercado traficante", explica, e cita o resultado que o trabalho de inteligência pode gerar. "Não há outra forma de aumentar apreensões e o combate ao tráfico de drogas", completa Thyone.
Outras drogas
A retenção de comprimidos de ecstasy entre 2013 e 2022 subiu de 196.413 no primeiro ano para 879.109 no ano passado — aumento de 347%. As apreensões de maconha no período também aumentaram. Há dez anos, a PF apreendeu, em todo o país, 222.225 kg, quantidade que passou para 414.874 kg no ano passado — crescimento de 86,7%. A captação de haxixe teve queda de 17% e passou de 344 kg, em 2013, para 285,6 kg, em 2022.
Cássio Thyone explica os movimentos com base em argumentos geográficos. "As apreensões dependem de fatores como a localização. Há estados que são rota de passagem para drogas e outros fazem fronteira com regiões produtoras, no Norte e no Centro-Oeste, por exemplo, com Bolívia e Colômbia, países considerados produtores. Quanto maior a fronteira, mais complexa a fiscalização. As características particulares dos estados se refletem nas apreensões", observa.
Parte da explicação está, ainda, na agilidade do tráfico, segundo o especialista. "Se há intensificação da fiscalização em determinado estado, as rotas vão se alterar, porque [os mercados] vão buscar locais com mais vulnerabilidade para se estabelecer e dar conta da demanda de drogas", afirma Thyone.
Há unidades da Federação com maior volume de apreensões por conta de portos e aeroportos, que acabam funcionando como rota para o exterior. "O que não significa que a cidade tenha um fluxo intenso de drogas", ressalta o especialista. "Todos os fatores têm de ser postos na balança. Há, ainda, períodos de intensificação em determinados estados, com operações significativas", completa.